Foi em Agosto de 2018 que Greta Thunberg começou aquele que se tornou um protesto icónico e que a trouxe às bocas do mundo: “School Strike for Climate”. Decidiu fazer uma greve à escola e sentou-se à frente do parlamento sueco com um cartaz de cartão. Meses depois, milhares de jovens pelo mundo inteiro juntavam-se a ela. Hoje, depois de 3 nomeações para o Nobel da Paz, várias participações nas Conferências das Partes (conhecidas como COP) e de lançar 3 livros, a jovem de 20 anos tornou-se no rosto mais conhecido do ativismo climático.
Os ataques a Greta Thunberg começaram quase imediatamente: muitos diziam que ela estava a ser “empurrada por forças maiores”, outros acusavam-na de imaturidade pela sua idade e outros acusavam-na de hipocrisia por participar na mesma economia que estava a destruir o clima. Outros ainda chamaram à atenção o “histerismo” das suas declarações, fazendo comentários sexistas com o intuito de a descredibilizar. Houve até aqueles que recorreram a ameaças de violência física e sexual. E ainda quem tenha produzido imagens em que a jovem, ainda menor, era sexualizada.
A máquina de comunicação que defende o status quo, pode ter graus diferentes de agressividade, mas trabalha rápida e sincronizadamente em modo de autopreservação. E acaba a usar os instrumentos de opressão social que tiver à sua disposição para o fazer.
E no meio disto há um apelo hipócrita aos jovens para participarem na política. Quando falamos de jovens, falamos da camada demográfica que mais provavelmente está disposta a cometer riscos ao mesmo tempo que é das que menos votam. Porém, os jovens participam mais em protestos pelo clima, e deles se compõem vários grupos radicais de ação climática. Mas não é esse o tipo de envolvimento político que se quer promover. Querem antes que estes participem no nosso sistema de democracia representativa que pouco representa ou faz pelas causas que defendem. Da mesma maneira que Greta foi atacada, observou-se durante as últimas “ocupas” em universidades e escolas, um ataque agressivo à legitimidade do protesto e a quem o representa. Novamente vimos chamados à conversa a imaturidade, o histerismo, os penteados e aspeto dos jovens que organizaram a manifestação.
A deslegitimação do protesto começa também por dizer que este é demasiado extremado. Que o protesto foi longe demais e que “haverá outras maneiras melhores de passar a mensagem”. Aqui a questão é: qual? Se o objetivo é passar uma mensagem, um protesto tem de ter uma dimensão que a leve às pessoas. Esta dimensão tem, muitas vezes, de ir além do número de protestantes. Para aumentar o seu impacto, por vezes recorre-se a algum nível de disrupção. Protestos pacíficos são geralmente benéficos para as causas que advogam mas têm pouco impacto. Isto verifica-se ainda que haja algum tipo de desobediência cívil. Protestos extremos ou violentos acabam por ter mais impacto na opinião pública, mas podem reduzir o apoio popular à causa. A isto chama-se o “dilema do ativista”. Mas o argumento ouve-se qualquer que seja o protesto por ser incómodo para os defensores dele. Estes têm assim de sair da sua bolha e lidar com um assunto para o qual não têm resposta sem colocar em causa as suas crenças. Por isso, o que pretendem é outra coisa: silenciar.
Um outro argumento é: “O que é que eles conseguiram com isto? No dia a seguir o que é que se fez?”. A expectativa de que toda a manifestação se transforme numa revolução ou que provoque mudanças radicais é irrealista. O objetivo aqui é o de desencorajar: “Os vossos esforços são em vão e mais valia terem ficado em casa”. Mas o facto de haver um espaço de comentadores para dizer isto é falar do assunto e é uma vitória. Ninguém está à espera de que os políticos estejam atentamente a seguir a manifestação e a tirar ideias num bloco de notas do que está escrito naquele cartaz feito com uma caixa de bananas. A mensagem dos ativistas não é para os governos, é para a população. Change the system, not the climate!
Por fim ouve-se: “Até podem ter razão mas vemos medidas radicais impossíveis de implementar e ninguém os leva a sério”. A causa climática é preocupante e requer acção urgente. Qualquer ativista climático reconhece que apesar disso nenhum governo no atual sistema tomará as medidas necessárias para a combater. A sua radicalidade é a que acham necessária para o desafio que temos pela frente. As propostas extremas são, no entanto, desencorajadoras para a larga maioria dos cidadãos moderados. Mas ao ceder, o seu impacto pode parecer fraco e não fará mais fácil a tarefa de as advogar mais à frente. Tornará sim mais fraca a posição da qual se negoceiam e os objetivos alcançados menos significativos. É por isso importante advogar por medidas radicais!
Greta Thunberg trouxe com o seu protesto pacífico milhões de jovens às rua. O impacto provocado por ela é incalculável. Iniciou com o seu cartão, tinta e rebelião todo um discurso em torno da inação dos governantes perante a catástrofe climática. Tornou as populações mundiais mais exigentes perante os seus governantes. E mostrou a todos os ativistas que vale a pena esta luta. Hoje, como todos os outros ativistas, Greta continua os seus protestos, faz cartazes, cria disrupção e é detida. É um exemplo de como o ativismo é necessário, mesmo que tenhamos de saltar umas cercas.
E é aqui que nos colocamos! DiEM25 tem apoiado vários grupos ativistas e dinamizado várias acções climáticas entre os seus próprios ativistas. Criou em 2019 um relatório de políticas de transição para a sustentabilidade na União Europeia chamado Green New Deal ou Novo Pacto Verde. Este pacote de políticas detalha várias medidas que pretendem criar as condições para uma transição justa, focada em melhorar a qualidade de vida e com uma abordagem que pretende empoderar as pessoas em vez de centralizar a acção no topo. Propomos que leias o nosso relatório, ou se não tiveres paciência o seu resumo.
Por fim, este sábado dia 13 vamos estar a apoiar a campanha “Gás é andar para Trás” em Sines. Junta-te a nós! Sabe mais em https://gasparatras.pt/.
Pedro Pontes
Pelo DiEM25 em Portugal
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