Como comunicar ideias que desafiem o status quo

Não adocemos a pílula: o jogo da comunicação está viciado. Os principais meios de comunicação social? São controlados pelas mesmas elites que alimentam os problemas contra os quais estamos todos a lutar. As plataformas? São propriedade de uma data de gigantes da tecnologia que se preocupam mais com os lucros do que com a verdade. Se estiveres a fazer pressão por uma mudança sistémica, boa sorte, porque os principais atores têm o dinheiro, os algoritmos e a influência para a abafar.

Mas eis a questão: a opinião pública não é imutável. Ela move-se. E se quisermos movê-la na nossa direção, temos de deixar de jogar pelas regras que o sistema definiu. Temos de repensar a forma como comunicamos: o que dizemos, como o dizemos e onde o dizemos. E, sobretudo, temos de despertar as pessoas do cinismo e da apatia com algo tangível.

Então, e como chegamos lá? Eis o que aprendi ao fazer isto todos os dias: uma comunicação eficaz tem de ser simples, emocional e suficientemente ousada para enfrentar de frente as narrativas dominantes. Vamos a isso.

Simplificar

Os problemas que estamos a enfrentar – a desigualdade desenfreada, o colapso climático, a democracia moribunda – são complicados. Mas se tentarmos comunicar as nossas soluções de uma forma demasiado académico, perdemos público. E bem depressa. A verdade é que a maioria das pessoas está a lutar para sobreviver. Estão stressadas, sobrecarregadas de trabalho e bombardeadas com informação 24 horas por dia, 7 dias por semana. Se queremos que elas nos ouçam, temos de lhes facilitar a vida.

E não, isso não significa simplificar. Significa, sim, filtrar o que é dito e estabelecer uma ligação com a vida real das pessoas.

Vejamos um exemplo como o Green New Deal. Sim, é uma visão transformadora para a sociedade, mas o que é que isso significa realmente para alguém que está preocupado com o pagamento da sua próxima renda? Significa novos empregos. Significa faturas mais baixas. Significa cidades mais saudáveis. Se não conseguirmos resumir tudo a esses impactos quotidianos, estamos apenas a falar para nós próprios. É fundamental tocar as pessoas.

Então, qual é a primeira regra de ouro? É a simplicidade. Se a tua mensagem não for clara durante uma conversa de café, repensa-a.

Torna-os emotivos

Factos são excelentes. Mas factos por si só não comovem ninguém. Se o fizessem, não teríamos metade do mundo a negar as alterações climáticas e a viver em condições climatéricas extremas.

A emoção leva à ação. As pessoas não querem apenas perceber o que está a acontecer, precisam de o sentir. É por isso que a extrema-direita tem tido tanto sucesso. Ela transformou o medo e a raiva numa arma. É barato, fácil e funciona. Mas eis onde falham: as soluções deles baseiam-se na divisão, em bodes expiatórios e em mentiras. Nós temos algo que eles não têm: esperança. E soluções reais que não destroem a sociedade.

Mas não basta apresentar apenas “soluções”. Temos de contar as histórias por detrás dos números. Por detrás de cada medida de austeridade, há uma família a perder a sua casa. Por detrás de cada fracasso da política climática, há uma comunidade a lutar pela sua sobrevivência. Estas histórias são poderosas. São elas que tornam a luta real e são elas que transformam apoiantes passivos em ativistas.

Por isso, da próxima vez que estiveres a pensar em partilhar uma qualquer política, não te limites a despejar os dados. Humaniza-os. Mostra o impacto que têm. Faz com que as pessoas sintam a injustiça e a possibilidade de mudança.

Desafiar a narrativa

Um dos maiores obstáculos que enfrentamos é a narrativa dominante que nos é transmitida todos os dias. Ouvimos sempre os mesmos disparates: “É preciso crescimento económico a qualquer preço”. “A desigualdade? É apenas o preço do progresso”. “Democracia real? É assim que as coisas são: não se preocupem em tentar mudá-las.”

É aqui que entramos. O nosso trabalho é inverter essa narrativa. Desafiar os mitos que têm sido contados às pessoas durante anos e oferecer uma história diferente. Porque a história atual, aquela em que os bilionários ficam mais ricos enquanto o planeta arde, não está claramente a funcionar para a maioria das pessoas.

Mas eis a chave: criticar simplesmente o sistema não vai funcionar. Temos de oferecer algo melhor. Uma alternativa clara. Quando nos referimos à ação climática, não estamos apenas a alertar para o apocalipse. Estamos a falar de melhores empregos, ar mais limpo e uma economia mais justa. Quando falamos de desigualdade, não estamos apenas a criticar os ricos. Estamos a mostrar às pessoas que uma sociedade mais igualitária significa mais segurança, mais oportunidades e mais liberdade para todos.

E é assim que conseguimos que as pessoas se juntem a nós. Mostrando-lhes que não se trata apenas de deitar as coisas abaixo: trata-se de construir algo melhor.

Construir uma nova narrativa para um mundo em mudança

O mundo em que estamos a viver está a desmoronar-se. O aumento da desigualdade, a decadência democrática e o colapso ambiental estão ligados. As pessoas sabem que algo está errado. Não é preciso convencê-las disso. Mas é aqui que a extrema-direita tem sido inteligente: tem oferecido soluções simples e fáceis. Culpar os imigrantes, construir muros, agitar bandeiras. É treta, mas seduz. Porque é simples, é emocional e parece uma solução, embora não o seja.

Então, o que é que oferecemos em vez disso? Soluções reais baseadas na esperança e na solidariedade. E a diferença? As nossas soluções não se baseiam em mentiras ou em bodes expiatórios, baseiam-se na realidade. Sabemos que combater a desigualdade, lidar com as alterações climáticas e restaurar a democracia são as únicas formas reais de corrigir o que está estragado.

Mas temos de fazer com que as pessoas acreditem que a mudança é possível. E é aí que entra a nossa narrativa. Não se trata apenas de desgraça e tristeza. Trata-se de mostrar às pessoas que podemos reescrever o futuro, e que elas fazem parte dele. O sistema que estamos a combater não é inevitável. É uma escolha. E podemos escolher algo diferente.

A extrema-direita está a usar a divisão e o medo para mobilizar as pessoas. Mas nós podemos mobilizá-las com algo mais forte: a visão de um mundo mais justo, mais verde e mais democrático. Um mundo onde todos tenham voz.

Conclusão

Não temos os recursos dos media corporativos ou dos políticos apoiados por bilionários. Mas não precisamos deles. O que temos é o poder das ideias, a força da solidariedade e a capacidade de comunicar diretamente com as pessoas.

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