por Davide Castro
O poeta Fernando Pessoa ensinou-nos que nenhuma ideia estúpida pode adquirir aceitação geral a não ser que tenha alguma inteligência misturada. Como pode então ser que a ideia da austeridade pareça tão generalizadamente aceite? Objetivamente é uma política falida – os indicadores são claros a este respeito – e porém continua a fazer parte integrante da nossa vida quotidiana.
Acontece que agora sabemos com certeza o que já era óbvio há algum tempo: que a austeridade não só não é adequada como política para sair de uma crise económica mas também que a sua continuação depende quase exclusivamente da incapacidade da classe dirigente para perder o capital político investido até agora na sua defesa. Foi verdade na Grécia, em Portugal e é verdade hoje por toda a Europa. Enquanto o Fundo Monetário Internacional (FMI) agora condena publicamente as políticas de austeridade que a Troika de credores – que incluía o FMI – forçou às economias periféricas da Zona Euro, quase nada foi feito para as reverter. De facto, ouvimos os nossos líderes proclamar o fim da crise como se vivêssemos num mundo a preto e branco que nos oferece opções binárias simples tipo crise/não crise e nós pudéssemos ligar ou desligá-las a pedido.
Não será precisamente a tragédia dos nossos dias o facto de que estamos todos perfeitamente conscientes do custo da austeridade, mas apesar disso não conseguimos admitir que ela estava pura e simplesmente errada? O caso da Grécia demonstra que o capital político gasto na prossecução de medidas de austeridade não pode ser renunciado facilmente. Seria a mesma coisa que admitir que todo o trabalho que se fez foi uma mentira. E coim eleições ao virar da esquina, todos sabemos que nenhuma figura política admitiria um dislate dessas dimensões quando esteja em causa conquistar o poder.
Parecemos estar a viver na “sociedade do espetáculo” a que se referia Guy Debord, exceto que neste caso não se trata de estarmos escravizados apenas por avanços tecnológicos que nos induzem a agir como agimos, mas também pelo nosso sistema político, cujos funcionários operam num quadro de lutas pelo poder.
Podíamos debater as verdadeiras questões do nosso tempo, como as alterações climáticas, a pobreza, a falta de investimento, etc, mas a classe dirigente liberal prefere antes prolongar e fingir a mentira da austeridade de modo a persuadir os eleitores que foi uma política correta, independentemente do que as provas factuais efetivamente digam. O resultado desta política de continuar e fingir é o que estamos a testemunhar hoje por todo o Mundo: ressentimento generalizado face ao establishment liberal encarnado e monstros populistas cujas políticas xenofóbicas, racistas e autoritárias estão a encontrar eco nas nossas comunidades.
Qual é então a resposta a estas políticas falhadas? A resposta só pode ser uma Internacional Progressista cuja narrativa penetre profundamente na visão distorcida da realidade que descrevi acima. Temos que falar sobre isto incessantemente. Temos que repeti-lo ad nauseam para desmantelar as camadas de propaganda a que somos sujeitos diariamente. Se não o fizermos, falharemos miseravelmente na nossa luta para mudar a Europa e o Mundo. Não há tempo a perder.
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