“Quando as notícias sobre o golpe de Lisboa chegaram ao quartel-general do PAIGC em Conakry, foi um pandemónio: os militantes do Partido e os guerrilheiros riam-se, gritavam, abraçavam-se, pulavam — «Vês? Ganhámos! Destruímos o fascismo português […] é graças a nós que o povo português é hoje livre!»”
Jack Bourderie em Afrique-Asie, de 13 de Maio de 1974; citado no Expresso de 5 de Abril de 1975
Comemorar com memória
de DiEM25 membro Miguel Santos
Na madrugada de 25 de Abril de 1974, Salgueiro Maia disse aos soldados: “Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados sociais, os corporativos e o estado a que chegámos. Esta noite vamos acabar com o estado a que chegámos! “
O que era esse “estado a que chegámos”?
Podemos vê-lo na primeira frase do comunicado do MFA, demonstrando “que ao fim de 13 anos de luta em terras do Ultramar, o sistema político vigente não conseguiu definir concreta e objectivamente uma política ultramarina que conduza à Paz entre os Portugueses de todas as raças e credos”.
O fim do regime deve-se, sobretudo, à guerra em África, um conflito sem solução política. O golpe final à ditadura foi dado pelos veteranos e soldados que se preparavam para ir combater pela primeira vez.
Porém, o 25 de Abril ganhou contornos de um “milagre português”, em que os portugueses de Portugal, da Metrópole, se libertaram a si mesmos e, por consequência, generosamente, libertaram os povos das colónias.
Esquecemos os que lutaram pela liberdade em África e que, por isso, contribuíram para o fim do Estado Novo.
Sem a guerra não haveria 25 de Abril de 1974.
Nas palavras de Amílcar Cabral, líder do PAIGC, que não viveu para ver a sua Guiné natal independente, nem o 25 de Abril: ” Nós estamos absolutamente convencidos de que, se em Portugal se instalasse amanhã um governo que não fosse fascista, mas fosse democrático, progressista, reconhecedor dos direitos dos povos à autodeterminação e à independência, a nossa luta não teria razão de ser.”
Hoje, embora independentes, as ex colónias estão ainda em vias de desenvolvimento político, económico, social e humano, depois de décadas de violência. Sobre elas paira, ainda, um espectro neocolonial que assombra as relações com o ex colonizador. E reconheçamos também que a precariedade, discriminação e exclusão social estão ainda demasiado presentes nas vidas dos afro-descendentes em Portugal.
Este é um Abril por cumprir, talvez por excluirmos desta história, muitos dos seus heróis e heroínas, libertadores de dois mundos, numa vitória partilhada.
De novo, Cabral: “Nós nunca confundimos o “colonialismo português” com o “povo de Portugal”, e temos feito tudo, na medida das nossas possibilidades, para preservar, apesar dos crimes cometidos pelos colonialistas portugueses, as possibilidades de uma cooperação eficaz com o povo de Portugal, numa base de independência, de igualdade de direitos e de reciprocidade de vantagens seja para o progresso da nossa terra, seja para o progresso do povo português.”
É preciso comemorar com memória.
25 de Abril sempre!
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