Hoje pelas 16h no Largo Camões, em Lisboa, reunimo-nos em protesto contra a traição dos EUA ao povo Curdo e a inacção da UE face à invasão de Rojava pela Turquia.
As forças armadas Turcas invadiram o norte de Síria, a região conhecida como Rojava, Curdistão Sírio ou, oficialmente, Federação Democrática do Norte da Síria.
Na verdade, o ataque começou em finais de 2018. Mas agora, toda a região de Rojava está sob ameaça.
O seu alvo são as Forças Democráticas Sírias (FDS), uma aliança militar de maioria curda, contendo também árabes, assírios, turcomanos, arménios e chechenos. Preenchem o vazio deixado no norte da Síria, desde que as forças governamentais retiraram no início da guerra civil.
As FDS lutam para transformar Rojava numa região autónoma, secular, descentralizada e democrática. Fundaram uma nova organização social enquanto combatiam o Estado Islâmico e outros grupos jihadistas.
Em Rojava iniciaram uma experiência democrática, multi-étnica, baseada em três pilares: municipalismo, feminismo e ecologia, inspirados na obra do anarquista e ecologista social Murray Bookchin (1921-2006).
Apesar da fraca cobertura mediática no Ocidente, Rojava ganhou alguma notoriedade por causa das unidades militares femininas que fizeram frente ao Daesh e que participam nas assembleias de cidadãos e nos conselho da Federação.
Mas a democracia em Rojava não é o Paraíso na Terra, existem contradições e limitações, especialmente num contexto de escassez generalizada numa guerra que se eterniza.
Cercados por inimigos, Rojava tem tido o apoio de indivíduos de várias partes do mundo, incluindo Portugal, que formaram brigadas internacionais para combater no norte da Síria ou apoiarem em projectos ecológicas como as campanhas de reflorestação. Mas a colaboração militar com os EUA e França, um casamento por conveniência, foi crucial para a derrota do Estado Islâmico.
Agora, os EUA abandonam Rojava, deixando o caminho aberto para a entrada das forças turcas, fazendo lembrar o modo como abandonaram os curdos do Iraque às mãos de Saddam Hussein.
As razões para a invasão turca é a criação de um “corredor de paz”, para realojar os sírios que se refugiaram na Turquia, e impedir a colaboração política e militar entre curdos dos dois lados da fronteira. Mas essa zona tampão será feita atacando a democracia em Rojava e ameaça aumentar a crise humanitária dos refugiados.
Neste cenário, é importante lembrar que a União Europeia paga ao estado turco para que “lide” com os refugiados. E a Turquia, tal como muitos estados da União Europeia, faz parte da NATO. Este problema também é nosso.
Também convém recordar que uma vaga de políticos de estilo e conteúdo autoritário governa estados proeminentes, como é o caso da Turquia.
O fim violento da experiência democrática em Rojava e a eclosão de uma nova crise humanitária será mais uma vitória do autoritarismo e uma derrota das sociedades que se querem abertas, livres, solidárias e democráticas.
A luta pela democracia no Médio Oriente, é a luta democrática de todos nós, no Ocidente e no Sul Global.
Miguel, colectivo de Lisboa
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