Esta é uma imagem que provocou muito entusiasmo no meu país. As pessoas finalmente conseguiram unir forças e sair às ruas. Além disso, a União Europeia, ou melhor, o seu poder estabelecido, dá-nos o seu apoio aparente. O Sr. Juncker e o seu vice-presidente, Frans Timmermans, enviaram “um aviso claro” expressando a sua preocupação relativamente à independência do nosso sistema judicial e à continuidade da “luta contra a corrupção”. A mensagem é clara: agora vamos descobrir porquê.
O contexto dos protestos atuais, além de alguns detalhes “técnicos”, é o mesmo que o do inverno passado, os maiores na história da Roménia pós-comunista. Isso deve-se à ânsia e ao desejo do atual Parlamento e da sua liderança, do partido social-democrata, em fazer com que o poder judiciário fique sob o seu controle para poder dar cobertura às suas próprias práticas corruptas.
Parece que estamos acorrentados a esta narrativa de “batalha contra a corrupção”, muito ofuscados para se conseguir ver para além do horizonte. Estamos sozinhos nisto? Definitivamente que não estamos. Todas as nações que emergiram recentemente para o “capitalismo liberal de livre mercado”, que se estendem da Europa Oriental (ver protestos recentes na Ucrânia) e da América do Sul até ao Oriente Médio (ver a primavera árabe) sofrem da mesma doença. Essas nações também fizeram a íntima experiência das práticas sinuosas do poder neoliberal estabelecido, destinadas a desviar a atenção pública das questões sociais reais e a enfraquecer a própria democracia, destruindo uma instituição após a outra. Isso foi minuciosamente descrito por Noam Chomsky em muitas ocasiões.
Vamos voltar aos protestos e ver como foram retratados, em fevereiro do ano passado, em dois dos artigos do Krytyka Polityczna. Um deles, assinado pelo Demos, uma plataforma cívica de esquerda europeia, expressou o seu profundo pesar pela forma como o partido no poder se apropriou, deploravelmente, da ideologia social-democrata. O outro artigo, da autoria de Florin Poenaru, proprietário e coordenador da plataforma ‘Left East’, alargou um pouco mais a mensagem pública em torno da “luta contra a corrupção”. O argumento subjacente era que, em muitas ocasiões, essa luta é um bode expiatório usado, simplesmente, para desviar a atenção da visão de conjunto, ou seja, das grandes desigualdades sociais, da grande concentração do capital, do facto de haver 40% da população a viver abaixo do limiar de pobreza e, nalguns casos, do abuso de direitos humanos.
Se virmos ambas mensagens conjuntamente, vemos que se sobrepõem com alguns dos pilares da agenda progressista do DiEM25: justiça social, liberdade e independência dos média. O que é triste é que os dois lados não se conseguem encontrar e expressar uma mensagem comum e, além disso, não se conseguem combinar numa força política forte. O problema que tem estado sempre subjacente, e ainda mais na Europa Oriental, é que a esquerda está dividida e que tem muita dificuldade em tornar a sua mensagem numa realidade.
Lembro-me de ter lido há algum tempo, um artigo sobre as razões pelas quais as pessoas não saíram para a rua depois da publicação dos ‘Paradise Papers’. Seguindo o mesmo raciocínio, poderia perguntar, por é que não houve protestos na Roménia sobre o TTIP ou o CETA, sobre as invasões da NATO em todo o lado, sobre as Cimeiras do G20, onde as elites políticas das economias mais influentes do mundo tomam decisões estratégicas nas costas da sua população, sobre as medidas de austeridade impostas na Roménia há alguns anos?
Bogdan é um membro da DSC de Bucareste, mas também é um humilde engenheiro que vive em Munique. Os seus principais pontos de interesse são as questões socio-políticas da Europa do Sudeste, bem como a promoção do DiEM25 nessa zona.
Foto: EuroNews.
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