Em finais de abril, o cargueiro saudita Bahri Yanbu içou as suas velas a partir dos EUA embarcando uma letal quantidade de armas. Tinha como destino a Europa para carregar mais armas, antes de voltar a Jeddah. Em inícios de maio, ancorou em Antuérpia, Bélgica, onde diversos contentores com munições foram carregados.
O seu próximo porto escolhido foi Le Havre, França. Aqui, no entanto, uniões de trabalhadores das docas e ativistas das organizações de direitos humanos ACAT e ASER preveniram-na de atracar para carregar armamento, incluindo oito canhões auto-impulsionadores Caesar. Isto, contrariando a rejeição do Tribunal Administrativo de Paris de uma ação judicial apresentada pela ACAT/ASER, afirmando que o embarque viola o Tratado de Comércio de Armas das Nações Unidas (ATT, sigla em inglês). O ATT proíbe um país de autorizar a transferência de armas para outro se este tem conhecimento de que estas armas podem ser usadas para praticar crimes de guerra. Documentos de inteligência militar foram publicados pela Disclose mostraram que armas francesas estavam a ser usadas com efeitos devastadores na guerra da Arábia Saudita no Iémen. Infelizmente, este armamento foi, mais tarde, transportado por comboio para o arsenal militar italiano em La Spezia, onde a embarcação o carregou.
A 13 de maio, o Bahri Yanbu estava no porto de Santander, Espanha, onde a maioria das armas eram carregadas apesar dos protestos. A 20 de maio, a sua atracagem em Genoa, Itália, levou trabalhadores da doca a fazer greve, bloqueando o porto e recusando carregar armas e equipamento relacionado – um ato localmente saudado como um ato histórico de solidariedade e internacionalismo da classe trabalhadora. Como parte da Confederação Geral de Trabalho de Itália (CGIL, sigla italiana), divulgaram uma declaração:
Acreditamos que esta resistência é a nossa pequena contribuição para resolver um grande problema para uma população que é morta diariamente em guerras… Não nos iremos tornar cúmplices neste comércio de armas. Esperamos que o governo e as instituições respeitem os acordos internacionais. Continuamos a achar que portos italianos têm de ser abertos às pessoas e fechados a armamento.
Outro cargueiro saudita, o Bahri Tabuk, atracou em Marselha a 28 de maio. De acordo com as revelações da Disclose, trabalhadores locais da doca e a união trabalhadora CGT tinham já recusado carregar quaisquer armas. Enquanto que, alegadamente, apenas cargas de cidadãos foram carregadas, ativistas locais frisaram que o cargueiro já estavam a embarcar veículos armados canadianos. A sua atracagem foi então em violação do ATT, que se estende além da provisão das armas de incluírem o seu trânsito.
A Arábia Saudita é o maior importador mundial de armas. A seguir aos EUA, o Reino Unido é o seu segundo maior fornecedor (com um valor de 5,5 mil milhões de euros desde a guerra no Iémen ter emergido há 4 anos atrás), a França o terceiro maior (com um valor de 3 mil milhões de euros entre 2015 e 2017), a Espanha também não fica atrás (com um valor de 1,2 mil milhões de euros entre 2015 e 2017), e a pequena Bélgica é o seu sexto maior fornecedor. Em outubro de 2018, a Alemanha suspendeu emporariamente a venda de armas à Arábia Saudita em protesto ao assassinato de Jamal Khashoggi. E ainda assim, a guerra liderada pela Arábia Saudita no Iémen – que já tirou 70 000 vidas, deixou 22 milhões de pessoas destituídas, e levou o Iémen à beira da fome – não constitui evidência suficiente para proibir a venda de armas por estes países?
Enquanto os políticos e mestres de guerra (a war pigs dos Black Sabbath) massacrarem milhares além-fronteiras para proteger interesses comerciais, a nossa “bem educada” elite não se preocupa. Mas os trabalhadores têm mostrado um verdadeiro espírito internacionalista e sensibilização com a transcendência de políticas locais e nacionais para defender vidas em terras longínquas. As greves de boicote ao regime do Pinochet de 1974 de trabalhadores escoceses definiram um precedente inspirador, Nae Pasaran! Contudo, protestos recentes permanecem não noticiados pelos média convencionais, e jornalistas que expuseram o envolvimento francês no conflito no Iémen enfrentam agora potencial encarceramento.
No DiEM25 saudamos a coragem, visão e solidariedade dos trabalhadores da doca de Genoa, Le Havre e Marselha, e de todos os outros que recusam ser cúmplices nesta indústria assassina. Apelamos aos nossos CEDs pela Europa, particularmente os próximos de grandes portos, que comuniquem entre si e a uniões locais comerciais com o intuito de viabilizar desobediência cívica e coesa pela Europa fora. Não podemos permitir que estas embarcações sinistras de morte atracar nossos portos.
Sona Prakash é uma membro do CED Temático pela Paz e de politíca internacional do DiEM25
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