Porque é o ecofeminismo tão relevante para os nossos tempos?

A emancipação feminina já não é apenas um fim em si mesma, mas é considerada como o meio para parar a destruição do planeta

Se a ligação entre ecologia e emancipação da mulher foi uma ideia revolucionária nos anos 1970, hoje em dia é uma ideia comum, e não há nenhum movimento que não tenha em algum momento apoiado as suas ideias com conceitos desenvolvidos no âmbito do ecofeminismo por esta palavra condensar tantas perspectivas importantes em simultâneo. 

Quem foram as principais fundadoras do ecofeminismo, o que defenderam elas e o que defende agora o ecofeminismo?

Embora Rachel Carson e o seu livro Silent Spring de 1962, no qual a autora denunciou os efeitos nocivos dos pesticidas no ambiente, seja uma referência inegável e um marco para o movimento ambiental, o ecofeminismo surgiu com Françoise d’Eaubonne, a feminista francesa que foi aluna de Marie Curie, uma das raras mulheres a estudar ciências na universidade da época.

Inspirada por familiares revolucionários e pela leitura de Simone de Beauvoir no final dos anos 1940, Françoise d’Eaubonne cofundou o Movimento de Libertação das Mulheres nos anos 1960, defendendo, entre outros, os direitos das mulheres ao aborto e ao controlo da fertilidade. Foi no contexto deste movimento que criou o grupo Ecologia e Feminismo, que viria a estar na origem do termo ecofeminismo: uma corrente de pensamento que relaciona a ecologia e o feminismo.  

A emancipação feminina já não é apenas um fim em si mesmo, mas é considerada como o meio para parar a destruição do planeta. Assim, desde os anos 1970, o ecofeminismo tomou forma com contribuições fundamentais que também chegaram dos EUA, nomeadamente de Ynestra King, fundadora do projecto Women and Life on Earth. A feminista e investigadora tornou ainda mais claras as relações de poder e dominação que as grandes empresas – criadas numa sociedade patriarcal – impõem à natureza e o quanto as mulheres podem contribuir para mudar esta lógica.

Carolyn Merchant é outra das principais vozes vindas dos E.U.A. para fazer do ecofeminismo uma disciplina cada vez mais autónoma e reconhecida. Conduzindo uma análise cultural e histórica da relação entre as mulheres e a natureza, Carolyn Merchant apela à libertação das mulheres e da natureza através do activismo ambiental, um instrumento de resistência ao que ela chama “tecnologia masculina”.

Décadas depois de activistas, investigadores e pensadores construírem a base de pensamento para a pluralidade de correntes do ecofeminismo, cada uma defendendo uma visão mais ou menos feminista ou radical, hoje em dia temos um sentido de contágio com esta palavra.

As ecofeministas foram das primeiras a apontar a omnipresença da discriminação e a sua interligação com o patriarcado e o capitalismo, como dois sistemas dominantes. As ecofeministas apontaram também para a questão da normalização da opressão tanto da Mãe Terra como das mulheres, chamadas na língua inglesa e noutras de “chicks” ou “fish”. 

Esta é uma desvalorização que acontece ao nível da mulher e aos animais não humanos, rebaixando-os ao nível da instrumentalização e do desejo sensorial. 

Ainda mais, as ecofeministas, e o ecofeminismo como teoria, evoluíram em grande parte para a ecologia queer. As ecofeministas da primeira vaga formularam algumas críticas ao ecofeminismo mais essencialista, defendendo o ecofeminismo mais construtivista, com uma visão mais fluida da natureza e da sociedade. No entanto, recai agora sobre nós como queremos que o ecofeminismo evolua. O termo é, provavelmente, menos importante, pois estamos nele para a luta comum de libertação total.

Temos de quebrar o ciclo de opressão – tudo de uma só vez. O desmantelamento das hierarquias está no centro da nossa luta. 

Somos ecofeministas porque defendemos o planeta e defendemos não só a igualdade de género, mas também os efeitos positivos que a igualdade de género e a emancipação da mulher têm na defesa do planeta.

Somos ecofeministas porque queremos romper com as relações de poder patriarcais impostas a todos os seres vivos.

Somos ecofeministas porque através do ecofeminismo alcançamos a justiça social e climática.

Somos ecofeministas porque ao libertarmo-nos, libertamos o nosso planeta do seu pior destino.

 

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