No 25 de Abril de 1974 fez-se uma revolução. Após a mesma, durante cerca de um ano, no assim chamado ‘Verão Quente’, houve uma possibilidade única para a criação de um sistema de organização política social e económica realmente novo, quer em Portugal, quer no Mundo. As imensas incógnitas geopolíticas e geoestratégicas, incluindo influências vindas da guerra fria, com pressões variadas, desde os EUA à URSS, ditaram o fim do PREC em Novembro de 75.
A revolução dos cravos ficou para a história como um exemplo excecional de como é possível efetuar uma revolução sem violência em larga escala, algo incrivelmente raro na história da humanidade: uma revolução em que ‘o dia seguinte’ acaba com a massa da população nas ruas, modulando um confronto, potencialmente bastante feio, entre os capitães e os oficiais superiores das forças armadas e com sucesso evitando um banho de sangue, restabelecendo finalmente a democracia no país, findos 40 anos de ditadura. Este exemplo de revolução pacífica, não pode e não deve ser esquecido.
Mas infelizmente a revolução ficou pela metade. Que melhor exemplo dessa lacuna, da falta de uma revolução cultural tão necessária a um país preso durante 40 anos no pequeno mundo dos três éfes, que o surgimento dos movimentos negacionistas do Covid ou da recusa de utilização de máscara. Estes movimentos clamam pela liberdade, numa visão limitada e altamente individualizada da mesma, distorcendo completamente o conceito. São a prova de que a nossa sociedade ainda tem muito a aprender sobre o que significa realmente ser livre.
Essa versão de liberdade não foi de todo a preconizada em 74 pelo Movimento das Forças Armadas. Liberdade durante o Verão Quente significava a expropriação dos latifundiários e a sua substituição por cooperativas. Significou a nacionalização e desmantelamento dos impérios bancários e fabris dos donos disto tudo, que prosperaram sob a alçada do Estado Novo. Significou acima de tudo a procura de um caminho do meio, entre os impérios e sistemas políticos e económicos da era. A liberdade coletiva de sonhar com um mundo novo, e de fugir a escolhas binárias e falsos dilemas.
Assim, 25 de Abril representa a negação de que ‘Não há Alternativa’. A lembrança de que por mais presos que pareçamos estar num sistema que se dirige a todo o gás para o abismo económico e climático, haverá um dia em que será de novo o povo quem mais ordena.
Fonte da fotografia: Wikimedia Commons.
Miguel Gomes pertence ao do coletivo de Setúbal do DiEM25.
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