Há anos que se via o que ia acontecer. O Tea Party nos Estados Unidos. O Golden Dawn na Grécia. O Alternatif für Deutschland. O crescimento irreversível do UKIP na Grã-Bretanha. Etc. etc. Nós víamos estes sinais. Analisámos as suas perspetivas históricas e politicas. Desenvolvemos uma narrativa cosmopolita de como “outra” Europa, “outro” mundo era possível.
Contudo, imperdoavelmente, não nos apercebemos da coisa mais importante disto tudo: que aqueles que estão em baixo na escala social estão consumidos por um “Grande Descontentamento” que os deixa desinteressados em temas complexos – não têm tempo para análises sofisticadas e complexas ou para agendas políticas de alto gabarito.
Onde nós falhámos, a Direita teve sucesso: os de direita encontraram uma maneira de aproveitar o “Grande Descontentamento”. E a solução deles foi simples:
Simplicidade! O que a Direita nationalista e nativista oferece é exatamente isto: SIMPLICIDADE
Milhões de trabalhadores norte-americanos sentem-se destinados à sucata, descartados, desprezados, negligenciados. Nós vimos como eles precisam apenas de um grande aceno Trumpiano para imaginar que é possível livrarem-se de tudo o que os oprime e uma vez mais ganhar esperança no futuro. É completamente lógico que eles queiram esperança, e sejam seduzidos por qualquer um que lhes diga que a vão conseguir recuperar com uma simples frase:
CONTROLAREMOS O NOSSO PAÍS OUTRA VEZ!
FAREMOS A AMÉRICA GRANDE OUTRA VEZ!
Numa era saturada pelos média, esse tipo de sound-bite agarra-se como merda a um sapato … enquanto toda a retórica de nós os liberais, democratas, Marxistas, utópicos, etc. é simplesmente demasiado vaga e com demasiadas nuances.
As coisas ficaram tão más para a parte mais baixa da sociedade que eles se sentem livres no sentido da Janis Joplin e do Nikos Kazantzakis: Liberdade como palavra alternativa para quem não tem nada a perder. Aliás, eles estão preparados para perder tudo o que lhes resta, se nesse processo, expressarem a sua raiva votando por alguém que irritará aqueles que eles consideram responsáveis pela sua perda de controlo.
É realmente uma revolução, mas não como a que conhecemos, a que desejávamos ou imaginávamos ou com a qual sabemos como lidar.
Os factos são simples mas nunca foram postos de forma simples: Nas últimas três décadas, 80% das pessoas são ludibriadas em 95% do tempo pelo top 20% da sociedade. Desde a metade dos anos 70, quando a primeira fase capitalista do pós-guerra acabou (com o colapso do sistema de Bretton Woods inspirado no New Deal), que aqueles que necessitam de um salário para viver caíram da escada rolante. A maior parte dos ganhos em tecnologia, produtividade, globalização, foram para o top 1% e nada para os 80% mais a baixo. As pessoas podem aguentar a pobreza, mas não a humilhação – quando os seus narizes são esfregados na sua própria pobreza por pessoas em iates, clubes de golfe e Mercedes, que lhes dizem que a sua pobreza é por culpa própria.
Pior ainda, todos os partidos convencionais oferecem pequenas variantes de um sistema que falhou para 80% das pessoas. Temos de ser muito mais radicais do que isso, para os atrair de volta, para longe das sereias da Direita xenófoba.
O que é que podemos fazer para alcançar essas pessoas? Eles são soldados e nós precisamos da sua energia e raiva. Mas eles foram encurralados pelos letais palhaços da Direita, como o Boris Johnson, a Marine Le Pen, o Nigel Farage e o Donald Trump, que dirigem a sua raiva na direção dos alvos errados.
Como e que NÓS reconectamos com essas pessoas?
Por agora, isto é uma pergunta aberta que não pode ser respondida de maneira ligeira ou com pressa. Temos de dedicar tempo a pensar sobre o Brexit.
Uma coisa que é clara é que o DiEM25 é mais importante agora que nunca. A nossa mensagem era simples desde o princípio: A Europa será democratizada ou desintegrar-se-á! O Brexit confirmou o que nós dizíamos.
Mas a nossa mensagem tem de ser simplificada ainda mais.
Temos de explicar exatamente o que queremos dizer com democratizar.
Temos de explicar àqueles atraídos pela simplicidade Trumpista/Brexitista porque democratizar a Europa é importante para eles.
Temos de contrariar a simplicidade Trumpista/Brexitista com uma mensagem própria simplificada (mas não demasiado simplificada).
Em resumo, temos de promover simplicidade progressista em vez de simplificação retrógrada.
Contudo, como todos sabemos, a simplicidade requer muito trabalho (frequentemente complicado).
Vamos a isso.
Brian Eno & Yanis Varoufakis
Queres receber informação sobre as ações do DiEM25? Junta-te aqui