A emancipação de Portugal passa por derrotar a oligarquia da UE

Portugal está no centro da sua própria tempestade, uma tempestade que reflecte a tragédia da Grécia em 2015

O DiEM25 nasceu das cinzas da desastrosa forma como a Europa lidou com a crise do euro. A partir desse momento, soubemos: se o capital flui sem fronteiras,ã a nossa luta pela democracia e justiça social também as deve atravessar. Não somos apenas mais um partido político ou uma ONG. Somos um movimento pan-europeu e transnacional. A nossa missão é simples: recuperar o poder das elites que se apoderaram da democracia. Foi por isso que fundámos a Internacional Progressista para unir forças a nível mundial e apoiámos recentemente a delegação sul-africana no Tribunal Internacional de Justiça no seu processo contra Israel. Lutamos em todas as frentes porque estas crises não estão confinadas a um único país.

Em Portugal, de onde escrevo estas palavras, o refrão familiar – “a mudança política é impossível” – ecoa tão frequentemente como as crises que enfrentamos: um mercado imobiliário fora de controlo, salários que mal cobrem o básico, empregos precários e uma sensação crescente de que o futuro nos está a ser roubado. Ouvimo-lo vezes sem conta – “a mudança é impossível”. Mas nós sabemos que não é assim. Quando as pessoas se levantam juntas com a convicção de agir, o dito impossível torna-se inevitável.

Nesse mesmo espírito, exorto-vos a verem In the Eye of the Storm: A Odisseia Política de Yanis Varoufakis, um documentário em seis partes realizado pelo brilhante Raoul Martinez. Esta não é apenas mais uma história sobre a Grécia. É um grito de guerra. O filme segue a corajosa confrontação de Yanis Varoufakis com o establishment europeu – não apenas para salvar a Grécia do aperto de ferro da austeridade, mas para expor as elites sem rosto que manipulam as nossas vidas sem qualquer mandato democrático.

E se pensas que isto é apenas sobre a Grécia, pensa de novo. Basta olhares para Portugal hoje: a habitação é um luxo para os ricos, os baixos salários estão a empurrar as famílias para a beira da falência e o nosso sistema de saúde não tem os recursos necessários para funcionar. A corrupção tornou-se rotina. Os políticos que dizem representar-nos estão mais interessados em proteger as suas regalias do que em servir o povo.

Portugal está no centro da sua própria tempestade, uma tempestade que reflecte a tragédia da Grécia em 2015. O que este documentário revela é como todas estas lutas – aqui em Portugal, em toda a Europa e para além dela – estão interligadas. Mostra como os alicerces da União Europeia estão a apodrecer, como a austeridade destruiu nações inteiras e como figuras como Donald Trump e outros demagogos de extrema-direita são sintomas de uma doença mais profunda. E não nos esqueçamos da iminente catástrofe climática – uma ameaça existencial que pode fazer esquecer todas estas crises se não agirmos.

O que In the Eye of the Storm deixa claro, e o que nós no DiEM25 temos vindo a gritar há anos, é que o chamado establishment e a extrema-direita são duas faces da mesma moeda. Os chamados “moderados” e a extrema-direita servem o mesmo patrão: o status quo neoliberal. O establishment oferece promessas vazias de mudança gradual, enquanto a extrema-direita vende ódio e culpa os mais vulneráveis da sociedade por problemas que não causaram. Mas ambos protegem o mesmo sistema, a mesma elite – um sistema que enriquece o 1% enquanto diz ao resto de nós para “apertarmos o cinto”.

É a velha história de sempre: socialismo para os ricos, austeridade para os restantes. Os 1% mais ricos aperfeiçoaram a sua própria versão de “comunismo”, mantendo a riqueza e os recursos para si próprios enquanto o resto de nós luta para sobreviver. Em 2015, a oligarquia da UE não hesitou em culpar países como Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha – os chamados “PIIGS” – pela crise do euro. Mas nós conhecemos os verdadeiros culpados: os banqueiros e os políticos que socorreram as instituições financeiras em vez de garantirem que as pessoas comuns tivessem casas, salários decentes e vidas dignas.

A tempestade não passou. As mesmas forças que Yanis Varoufakis combateu em 2015 continuam a atuar hoje. Mas agora escondem-se atrás de acrónimos familiares como FMI, BCE e UE, e são defendidas pelo chamado “extremo centro”, a elite política que nos diz constantemente que não há alternativa. Isso é mentira. Há uma alternativa. E In the Eye of the Storm deixa claro que não temos de aceitar este sistema falhado. Estas crises não são naturais nem inevitáveis. São provocadas pelo homem e podem ser desfeitas pelo homem.

O verdadeiro poder reside em nós, o povo. Quando reconhecemos que a narrativa dominante – seja do establishment ou da extrema-direita – é concebida para proteger um sistema que não nos serve, podemos começar a ripostar. Não temos de viver num mundo onde a habitação é um luxo, onde os baixos salários nos mantêm presos à pobreza e onde o nosso futuro é controlado por elites que se estão nas tintas para nós.

Este documentário não é apenas um olhar para o passado – é um apelo às armas. Portugal está numa encruzilhada. Podemos continuar a seguir o caminho da austeridade, da exploração e da destruição ambiental, ou podemos escolher um novo caminho – um caminho em que as pessoas, e não os lucros, estejam em primeiro lugar. Um caminho de solidariedade, democracia e justiça. Mas para mudar Portugal, para libertar verdadeiramente o nosso povo dos grilhões da dívida e do desespero, temos de derrubar a oligarquia da UE. E isso significa agir além-fronteiras, construir poder político e expulsar os interesses económicos privados da esfera política, onde a democracia deve reinar.

Por isso, peço-vos que não se limitem a ver este documentário e se sintam inspirados. Peguem nessa inspiração e transformem-na em ação. Juntem-se a nós. Juntem-se ao DiEM25. Juntos, podemos derrubar o sistema que nos oprime e construir algo novo.

 

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