Crise pandémica afecta principalmente as mulheres

As mulheres são as mais precárias, constituindo o maior contingente a ganhar o salário mínimo e, em média, por trabalho igual ou equivalente recebem menos 14,74% (1) do que os homens.

A somar à precariedade na vida, a crise atual atacou os sectores onde são a maioria – 90% dos empregos destruídos durante os primeiros meses da pandemia eram postos de trabalho ocupados por mulheres.

O impacto da crise que vivemos hoje é enorme e as mulheres continuam a estar na linha da frente na mitigação dos seus efeitos. A pandemia demonstrou que são essenciais para sustentar a vida nos hospitais, nas residências e nos lares: as cuidadoras, as auxiliares de limpeza, as enfermeiras, as trabalhadoras têm estado na primeira linha contra o Covid, mas trabalham em condições de precariedade (44% das mulheres trabalhadoras não recebem o salário mínimo interprofissional). É hora de enfrentar a precariedade e a feminização da pobreza diante desta crise que se anuncia.
As mulheres têm a conhecida “dupla jornada”, por vezes “tripla, quádrupla…”. Além de serem as mais precárias, em média trabalham 4h30 por dia em tarefas domésticas e do cuidado – desde a preparação de refeições, à limpeza da casa, ao cuidado de crianças e adultos – o que se traduz em 3 meses anuais de trabalho gratuito, completamente ignorado e invisibilizado.
Por isso, continuamos a lutar por uma justa divisão de responsabilidades, a socialização dos cuidados e o reconhecimento destes como trabalho. Não podemos permitir que os cuidados continuem recaindo sobre o trabalho feminino, não remunerado e remunerado, mas precário, invisível e feminizado.

O sistema em que vivemos estrutura a sociedade segundo uma lógica de consumo, que perpetua padrões de beleza, alimenta estereótipos de género e reproduz uma cultura machista que objetifica a mulher. É este mesmo sistema que está na base da crise climática e na exploração desenfreada dos recursos, estando, mais uma vez, as mulheres entre os grupos mais vulneráveis e afetados pelas alterações climáticas.
Não existe reforma possível, a luta feminista e pela justiça climática exigem o fim do capitalismo. A nova normalidade tem de ser um mundo novo, onde a produção e a reprodução estejam ao serviço das pessoas e do planeta.

Contra todas as crises, agora e sempre, reivindicamos o público e o comum. Temos a convicção de que somente a partir de uma visão abrangente que atenda às necessidades específicas de cada um, poderemos dar uma resposta coletiva. Somente a partir da perspetiva feminista poderemos fazer frente à reconstrução do tecido social, económico e público por meio de estratégias de redistribuição da riqueza como alavanca para garantir a justiça social.

Diante da intensificação da luta feminista, vemos como a direita e a extrema-direita criminalizam o feminismo, culpando-nos pelo contágio, ao mesmo tempo que negam a violência de género e as desigualdades que vivemos. Enquanto isso, continuamos a luta. Neste dia 8 de Março voltamos fortes e junt@s enchendo as ruas, como parte daquele grito internacionalista global e em constante luta que nos faz avançar como sociedade.

Fonte da fotografia: Lindsey LaMont em Unsplash

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