A defesa radical da permanência do Reino Unido na União Europeia – evento do DiEM25 Londres, 28 de Maio 2016

A 28 de Maio ocorreu um evento marcante em Londres – o maior evento a apresentar a defesa radical e progressiva da permanência do Reino Unido na UE. Os oradores incluíram Yanis Varoufakis, Caroline Lucas MP, John McDonnell (Membro do Parlamento e ministro-sombra das Finanças) e muitos outros. No final do evento, todos os oradores assinaram a DECLARAÇÃO DE LONDRES. Para mais informações sobre o evento co-organizado pelo DiEM25, Open Democracy e Another Europe is Possible, clique aqui.

Segue a transcrição do discurso do Varoufakis:
DISCURSO EM LONDRES 28 de Maio de 2016
Os referendos são companheiros estranhos. Mas não há nada de estranho nesta companhia – de aqueles que se juntam hoje para assinar a
Declaração de Londres.
Fomos levados a unir forças pelas duas campanhas oficiais que infantilizaram os eleitores, intencionalmente reportando-se a um referendo que foi cinicamente convocado para acertar as contas dentro do Partido Trabalhista. A nossa campanha é diferente.

Nós contamos com esperança e investimos na coesão, em vez de medo e aversão.
Ao contrário das duas campanhas oficiais, nós não dependemos de estatísticas duvidosas. Como economista, garanto-vos que as previsões econométricas de ambos os lados sobre os efeitos da Brexit não valem o papel em que estão escritas. Os avisos de Cameron e do Osborne sobre um colapso dos rendimentos disponíveis, a libra, os preços das casas etc. são falsos. Mas assim são também os números otimistas da campanha Leave (Sair). A Economia é simplesmente incapaz de produzir previsões decentes sobre tudo isto. Aqueles que propagam tais números são tolos ou estão a mentir.

Ao contrário das duas campanhas oficiais, não estamos interessados na polarização dos eleitores.
Temos origens, partidos políticos e até nações diferentes. Podemos abrigar diferentes perspectivas sobre a UE mas, como a nossa Declaração de Londres afirma, estamos unidos em torno da nossa convicção de que uma sociedade Britânica mais democrática e próspera só pode ser obtida no contexto de uma luta pan-europeia para democratizar a UE.

Sim, nós estamos aqui para a defesa radical da permanência da Grã-Bretanha na UE. Uma defesa internacionalista. Uma defesa para rejeitar a política proteccionista (beggar thy neighbour), a divisão e a regra lógica que tanto as instituições britânicas como a burocracia de Bruxelas seguem, cada um à sua maneira cínica.

A nossa campanha envolve honestamente os pontos fortes de ambas as opções. As campanhas oficiais de REMAIN (Ficar) e de LEAVE (Sair) não se podem dar ao luxo de tratar os eleitores como adultos. Há uma razão para isto. Por um lado a REMAIN representa aqueles que são a favor de um status quo a limitar a democracia em toda a Europa e servir interesses particulares. Por outro lado, a campanha LEAVE representa uma oligarquia nacional, tão interessada em libertar-se de Bruxelas, como em dominar o povo britânico.

A campanha Leave envolve dois pontos. A Soberania e a Migração.


A soberania é crucial. Boris Johnson está certo: Não devemos tolerar a tomada de decisões não-democrática em Bruxelas. O povo da Grã-Bretanha NUNCA se deve contentar com soberania democrática diminuída, pois não é um preço justo a pagar pela suposta influência global mediada pela UE na era da globalização.
No entanto, votar para deixar a UE só vai beneficiar uma classe dominante nacional, que ama a democracia desde que o
demos não esteja no poder.

Sair da UE nem sequer vos vai livrar dos excessos de regulação da UE que a imprensa tablóide gosta de desancar. Concordamos que é importante manter um controlo sobre os burocratas, deleitando-se com o poder do seu cargo não eleito. Contudo, sair da UE não vai mudar nada. A Grã-Bretanha nunca permitirá a Boris Johnson deixar o mercado único (mesmo se os eleitores optem por sair da UE). E assim sendo não haverá fuga do quadro regulamentar da UE.

Sobre a migração, estamos preocupados que os seus benefícios líquidos incontestáveis estão assimetricamente dispersos por toda a sociedade. Os serviços públicos em certas partes da Grã-Bretanha são de facto restritos, deixando muitos com a sensação de terem sido marginalizados no seu próprio país. No entanto, esta sensação não é causada pela migração; é apenas correlacionada com a mesma. A razão pela qual os serviços públicos estão a falhar é a austeridade contínua que esconde uma guerra perniciosa de classes contra a classe pobre da Grã-Bretanha; uma guerra que teria acontecido mesmo que a fronteira do Reino Unido estivesse hermeticamente fechada. Na verdade, sem o trabalho, as competências e dedicação de migrantes, o Serviço Nacional de Saúde (NHS) e outros serviços teriam entrado em colapso. Para que não esqueçamos, virar os nativos pobres contra os migrantes é uma variante do antigo truque de dividir e reinar que o estabelecimento britânico aperfeiçoou há muitos anos atrás para dominar o Império. Hoje o mesmo é usado para dominar os “nativos” locais, para esconder os efeitos da austeridade, e para desviar a raiva contra o “outro”, o estrangeiro, o migrante.

Amigos e adversários relevam um aparente paradoxo: No ano passado eu tentei, sem sucesso, convencer a UE a comportar-se de forma humana para com o meu país martirizado, a Grécia. E agora estou aqui à vossa frente em campanha para a Grã-Bretanha ficar nesta mesma UE – sim, a que esmagou a nossa Primavera de Atenas e tem-se comportado abominavelmente desde então.
Porque é que eu não concordo com aqueles que argumentam que a aceleração da fragmentação da UE através Brexit não é uma má ideia. Pense novamente! Será que a desintegração da UE vai potenciar os democratas progressistas a erguer-se por toda a Europa, capacitar os seus parlamentos, inaugurar as forças da luz e esperança, e promover a cooperação harmoniosa no continente? Não é provável.

Esta é a razão pela qual, após o esmagamento da Primavera de Atenas, a Caroline, eu e muitos, muitos outros de todo o continente formamos o DiEM25 com base no princípio de que não vamos render-se à UE autoritária actual, mas que também não devemos render-nos à tranquilizante fantasia de progresso através de retorno ao estado-nação.
Li ontem, num site de esquerda que apoia o Brexit, uma descrição da nossa campanha como Vira-casacas de Esquerda que Temem a Mudança. Eu tenho notícias para estes camaradas: Nós imploramos Mudança. Estamos a trabalhar para a mudança. Estamos em campanha para mudar o status quo. Mas para garantir que esta é a Mudança Progressiva, evitamos o isolacionismo e insistimos em tomar o caminho difícil, o caminho internacionalista que é construído na convicção de que não podemos construir democracia na Grã-Bretanha, se não lutarmos pela democracia em todos os lugares.

Hoje, vamos assinar a Declaração de Londres, que reflete esta determinação para a mudança ao longo das linhas do manifesto do nosso Movimento Democracia na Europa 2025 – DiEM25. Este é o início de um processo. Um processo para pôr em marcha uma agenda de EUROPEIZAÇÃO DESCENTRALIZADA para produzir:

  • Uma Europa democrática em que a autoridade resulta de povos soberanos da Europa, a tomada de decisões é transparente e o poder está delegado às comunidades;

  • Uma Europa Social, que reconhece os direitos e ausência da exploração como um pré-requisito para a liberdade verdadeira;

  • Uma Europa dinâmica que desencadeia os poderes criativos e produtivos dos seus cidadãos;

  • Uma Europa Pacífica, que serve como uma força para o bem na nossa vizinhança e no mundo;

  • Uma Europa Aberta que está receptiva a ideias, pessoas e inspiração de todo o mundo, em vez de estar a construir cercas e fronteiras que nos dividem;

  • Uma Europa Sustentável, que lidera o caminho para a transição verde para as economias florescentes do futuro, e viver dentro dos meios do planeta.


O que é que isto significa na prática? Isto significa trabalhar para uma economia coordenada (monetária, fiscal, de setores de investimento e financeiro) ao longo das linhas de um Green New Deal para a Europa que é implementado a partir de ilhas Shetland até Creta e de Riga até ao Porto. Isto significa que a tomada de decisões de maneira democrática deliberativa deve substituir a democracia oligárquica pseudo-representativa. Temos um longo caminho a percorrer. Mas este é o caminho que nós escolhemos em vez das ilusões gémeas do negócio é negócio
(business as usual) ou de recuperar a prosperidade no esplêndido isolamento dos Estados-nação barricados uns dos outros por fronteiras xenófobas.

CONCLUSÃO
Quando era estudante, tinha um amigo meu, próximo, que odiava as festas mas que, no entanto, nunca falhou uma única para que pudesse ter algo a reclamar no dia seguinte. A minha mensagem para o povo da Grã-Bretanha é: Não sejam como ele! Vão lá para fora após este evento para fazer campanha, campanha e campanha para a mudança radical dos vossos municípios, das vossas regiões, do vosso país, da vossa Europa. Juntem-se para fazer campanha a favor da permanência da Grã-Bretanha na UE com entusiasmo para a nossa causa comum: pegar em armas contra um mar de problemas e, ao lutar contra eles, acabar com os mesmos!

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